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Sou uma escritora de miudezas, mas diria melhor – e mais verdadeiro (porque nem sempre o melhor é mais verdadeiro) – se dissesse: sou uma pessoa de miudezas. Miudeza é palavra bonita e neste caso talvez eu devesse falar em pequenice. A dor das coisas pequenas é humildade, mas a dor de coisas pequenas é soberba. Hoje, confesso, sinto me humilhada por miudeza, o que quer dizer, lamento, soberba.A humilhação é uma espécie de soberba? Só se sente humilhado quem se atribui uma importância qualquer. Mas eu não afirmaria isso. Não hoje. Hoje não diria nem que sou uma escritora de miudezas, briguei com as palavras. Bufei, Miguel riu, franzindo o nariz na testa e mostrando o dente e meio. Miguel chora quando está com sono ou quando acaba a polenta.


Outra dor nessas dores pequenas é que elas não são dignas de um abraço. E porque carregava uma dessas nos ombros, fui dirigir. No sinal, um mendigo fez gesto de fome e eu que não levava carteira –nem de habilitação –abri a janela apenas para dizer que não tinha nem uma moeda. Ele percebeu que eu chorava. Desses choros abafados quase sem lágrima e com muito apelo. Porque chorava, me fez um elogio. Disse dos meus olhos e outras coisas que o ocorreu na hora. O mendigo do sinal viu a minha dor, se compadeceu de mim e falou como me desse um abraço.


Disseram-me que estou com semblante pesado: cansaço de mãe. Mas devo dizer que é tristeza. Essa tristeza que toda mãe leva nos olhos. Aprendemos que a dor do outro é a dor de um irmão, mas, para as mães, a dor do outro é a dor de um filho. Me perdoe se eu disser que no coração de mãe cabem todas as dores do mundo.