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Para Márcia

Num livro antigo, havia um marca página com uma dedicatória. Muito simples e, embora tratasse “a meu querido amigo”, fora toda escrita a lápis, até a exclamação que fechava com um coração dando ponto ao verso. Datava de 2002. Perguntei ao meu marido, por acaso, quem era Márcia. Respondeu que uma antiga namoradinha. Senti inveja de Márcia, como ela se escrevesse agora. Era capaz de escrever a lápis, desmanchar e escrever de novo, um verso tão simples que à caneta ficava bobo. Como que por excesso de zelo, desandasse. Escolheu cada preposição e trocou por outra, cada palavra e vírgula onde não havia. O lhe, por exemplo, soou tão pouco natural. Fora colocado ali e retirado e por fim colocado novamente. Já escrevi carta de amor. Há muito não escolho uma preposição – não por amor!Há muito não escolho uma preposição com insegurança, com mão fria, a lápis.